domingo, 22 de maio de 2011

A estrada do destino

"Um dia, o destino, trôpego velho de cabelos cor da neve, deu-me uns sapatos e disse-me: "Aqui tens estes sapatos de ferro, calça-os e caminha... Caminha sempre, sem descanso nem fadiga, vai sempre avante e não te detenhas, não pares nunca!... A estrada da vida tem trechos de céu e paisagens infernais; não te assuste a escuridão, nem te deslumbres com a claridade; nem um minuto sequer te detenhas à beira da estrada; deixa florir os malmequeres, deixa cantar os rouxinóis. Quer seja lisa, quer seja alcantinada, a imensa estrada, caminha, caminha sempre! Não pares nunca! Um dia, os sapatos hão-de romper-se; deter-te-ás então. É que terás encontrado, enfim, os olhos perturbadores e profundos, a boca embriagante e fatal que há-de prender-te para todo o sempre!"
Isto disse-me m dia, o destino, trôpego velho de cabelos cor da neve."

- Espanca, Florbela, Destino